domingo, 7 de março de 2010

Oscar 2010

Minha intenção era ter postado comentários sobre os indicados ao longo das semanas, conforme fiz no ano passado. Infelizmente, não foi possível. Mas, segue abaixo um pequeno comentário sobre as categorias e seus indicados. Esse ano deixei de ver apenas os cinco documentários (e tive acesso a três deles, mas não deu tempo), os cinco documentários de curta-metragem, três dos curta-metragem em live action e The Last Station, que foi tão raro que nem mesmo o crítico Pablo Villaça conseguiu conferir. Ah, e de Paris 36 eu só ouvi a canção indicada, também não conferi o longa.
Assisti 38 filmes de longa metragem e 7 de curta.

Vejam abaixo a cédula oficial, assinalada com meus palpites sobre os prováveis vencedores (cliquem para ampliar).




Melhor Documentário
Vi os trailers dos cinco indicados e todos possuem temáticas promissoras: Burma VJ fala de repórteres que se arriscam fazendo reportagens no país fechado de Burma; The Cove fala da matança de golfinhos na costa japonesa; Food, Inc. é mais uma denúncia aos grandes frigoríficos; The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers versa sobre como o funcionário do pentágono Daniel Ellsberg entregou cerca de 7 mil páginas de relatórios confidenciais do Pentágono para o New York Times, denunciando a forma como as guerras beneficiam o governo; e Which Way Home fala dos imigrantes ilegais mexicanos nos Estados Unidos. Contudo, pelo trailer, The Cove parece ter um acabamento mais dedicado e por isso é minha escolha.


Melhor Documentário em Curta-Metragem
Também não tive tempo de conferir os indicados, apenas seus trailers. Me parece um provável vencedor Rabbit à la Berlin, pois fala sobre os coelhos que viviam nos lugares onde, ao redor, foram construídos os campos de concentração da II Guerra Mundial. Com o alto contingente de judeus na Academia, creio que seja uma boa possibilidade.


Melhor Curta-Metragem
Assisti aos trailers de três dos indicados e pude conferir por inteiro dois deles: The Door e Miracle Fish. Meu voto vai para este último, pois é muito bonito (não vou revelar mais nada, pois sua temática real só é revelada no final), mas não me espantaria se Kavi fosse o vencedor.


Melhor Curta de Animação
Conferi os cinco indicados. French Roast é divertidinho, mas não empolga. Granny O'Grimm's Sleeping Beauty trás um bom trabalho de dublagem da velhinha, mas a animação fica devendo. Os três restantes são os mais promissores: Logorama é absolutamente genial ao trazer uma história vivida por personagens de logomarcas, como Ronald McDonald e o boneco da Michelin, em uma cidade composta apenas por tais marcas (inclusive pude encontrar a marca Hiper Bompreço no início, famosa cadeia de supermercados do Nordeste do Brasil). Em termos de criatividade, é certamente o melhor trabalho. Mas talvez seja muito arrojado para a Academia. Assim, creio que o vencedor será A Matter of Loaf and Death, que é um curta de 28 minutos da dupla Wallace & Gromit, sobre uma série de assassinatos de padeiros e um novo amor na vida de Wallace. Excepcional, como era de se esperar, e também meu favorito entre os cinco. Mas, The Lady and The Reaper também pode sair vencedor. Visual inspirado, sequências divertidas e conclusão apropriada, além da produção executiva de Antonio Banderas.


Melhor Animação
Essa é, para mim, a categoria com os melhores indicados da noite. Excetuando-se A Princesa e O Sapo, que é apenas mediano, os quatro concorrentes restantes são todos merecedores do prêmio. Obviamente, Up saira com o Oscar da festa, pois o apuro técnico da Pixar é ímpar. Porém, excetuando-se a magnífica sequência inicial, o longa seria consideravelmente diminuído quando comparado com os concorrentes restantes: Coraline é metaforicamente rico e conta com uma direção de arte genial, fundada, claro, na mente criativa de Neil Gaiman; O Fantástico Senhor Raposo é absurdamente divertido, conta com personagens muito cativantes, e é, como todo mundo anda dizendo, um Os Excêntricos Tanenbaums animado e com animais; mas meu favorito da noite é o soberbo O Segredo de Kells, um de meus filmes favoritos do ano até agora. Adotando um visual extremamente original, o longa tem como base um vilarejo celta no princípio do cristianismo, e seus personagens vivem entre a libertação de suas crenças pagãs e a necessidade de abraçar a nova religião. Destaque para a música cantada pela personagem Aisling, que deveria ter sido indicada a melhor canção (e seria minha favorita).


Melhor Canção Original
As duas canções de A Princesa e O Sapo são engraçadinhas, mas... também a indicada de Nine, apesar de divertida, não oferece muito. Assim, o caminho está mais que aberto para a consagração de The Weary Kind, apesar dessa não ser a música mais bonita do filme Coração Louco. Ainda assim, gostei mais da bela canção francesa do filme Paris 36.


Melhor Trilha Sonora
Eu adoraria se O Fantástico Senhor Raposo vencesse nessa categoria, embora preferisse ainda mais a trilha de Onde Vivem Os Monstros, completamente alternativa. Contudo, a vitória de Michael Giacchino por Up é praticamente certa.


Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som
Eu continuo com dificuldades reais para diferenciar essas categorias. Digo, eu até lembro a diferença, mas nunca lembro qual é qual. Então, filmes barulhentos costumam ter mais chance. Avatar deve vencer ambas. Mas Guerra ao Terror, Star Trek ou Transformers não me surpreenderiam.


Melhores Efeitos Visuais
Essa é a maior barbada da noite, afinal o que Cameron fez em Avatar revolucionou o cinema.


Melhor Maquiagem
Nenhum dos concorrentes é particularmente forte, na minha opinião. Aliás, o argentino O Segredo dos Seus Olhos me parece melhor que estes. Contudo, se o nariz de Nicole Kidman e as sobrancelhas da Salma Hayek podem, aposto nas orelhas de Spock. =P


Melhor Figurino
Também não há nenhum grande filme clássico de figurinos, na minha opinião. Nine é mediano até nesse aspecto. O Mundo Imaginário de Dr. Parnassus tem alguns bons figurinos, mas nada do outro mundo. Brilho de Uma Paixão tem uma personagem figurinista e é um provável vencedor. Coco Antes de Chanel fala da estilista, então também tem ótimas chances. Ainda assim, arrisco-me com The Young Victoria, pelo belo retrato da Inglaterra antes da grande mudança cultural trazida pela Era Vitoriana.


Melhor Direção de Arte
Dos cinco concorrentes, só Nine realmente me surpreenderia. A Inglaterra vitoriana de Sherlock Holmes e todos os apetrechos utilizados pelo detetive são cuidadosamente retratados no longa. Da mesma forma com The Young Victoria. Parnassus também é super criativo nos momentos ambientados no mundo imaginário. Todavia, a direção de arte de Avatar é talvez o aspecto mais grandioso do filme. Assim, conto com sua vitória.


Melhor Fotografia
Harry Potter está aqui por ser sombrio. Os filmes da série costumam ser tecnicamente impecáveis e pouco reconhecidos. As fotografias de Guerra ao Terror e Bastardos Inglórios retratam bem as respectivas guerras, e A Fita Branca possui um preto e branco realmente notável. Mas aposto em Avatar.


Melhor Montagem
Avatar não deve vencer este prêmio. Arrisco Guerra ao Terror, mas talvez a Academia queira premiar as montagens sempre não-lineares de Tarantino.


Melhor Filme Estrangeiro
Essa talvez seja a categoria mais imprevisível do Oscar, por motivos amplamente discutidos Internet afora. Pela primeira vez, tive a oportunidade de conferir os cinco indicados. Aliás, acabei de vê-los agora mesmo. O israelense Ajami tem uma montagem similar às de Tarantino: dividida em capítulos não-lineares. Conta histórias de árabes em Israel. Se fosse de judeus, seria um candidato mais forte, hehehehe. Um Profeta tem uma boa direção e vem sendo reconhecido mundo afora, então é um forte candidato, ao narrar histórias de presidiários. La Teta Asustada é tocante ao nos passar a fragilidade da personagem principal. O Segredo dos Seus Olhos é o melhor dos cinco longas, contando com um roteiro impecável, ótimas atuações, direção segura e um plano genial em um estádio de futebol. Mas o vencedor deve ser mesmo A Fita Branca. Haneke é um cineasta amplamente reconhecido e com uma carreira consistente. Eventualmente venceria um Oscar. Que momento melhor do que este, em que fez um filme sobre aqueles que viriam ser os carrascos da II Guerra Mundial? Mas, a categoria é imprevisível.


Melhor Roteiro Adaptado
Educação e Preciosa têm bons roteiros, mas não geniais. In The Loop conta com diálogos absurdamente excelentes, no melhor humor britânico. Distrito 9 seria a minha escolha pessoal, pois acho que o longa merecia algum reconhecimento. Mas Amor Sem Escalas deve vencer, até porque será o único prêmio do filme.


Melhor Roteiro Original
The Messenger e Um Homem Sério têm bons roteiros, mas não creio que sejam merecedores da categoria. Up seria a minha escolha pessoal, entre os indicados. Mas certamente o prêmio está entre Tarantino e o roteirista de Guerra ao Terror. Veremos quem se dará melhor.


Melhor Atriz Coadjuvante
Penélope Cruz mereceu por Vicky Cristina Barcelona, mas ela não faz nada de mais em Nine. Anna Kendrick tem uma cena de choro, Vera Farmiga compõe bem sua personagem, e Gyllenhall merece a indicação pelo seu carisma (mas também está bem no papel). Obviamente, o prêmio será para a atuação magnífica de Mo'Nique e eu anunciei isso no Twitter logo após assistir Preciosa, antes até mesmo das indicações ou do Globo de Ouro.


Melhor Ator Coadjuvante
Lamentavelmente não vi Plummer como Tolstói, mas acredito que esteja bem, pelo que pude conferir no trailer. Tucci está mediano em um filme mediano. Damon está bem, mas não merecia nem ter sido indicado. Woody Harrelson é sempre um ator muito interessante, formador dos tipos mais malucos, e está muito bem nesse personagem. Mas a vitória de Waltz é certa. E ele merece.


Melhor Atriz
Não vi Helen Mirren, e Sidibe e Mulligan estão bem, mas não vencerão. Essa é a maior incerteza da noite: Bullock ou Streep? Certamente que a Meryl precisa vencer um Oscar, por estar há décadas sem vencer e tendo "somente" 16 indicações. E a recriação que ela fez de Julia Child é... memorável (confiram no YouTube a original). Ela certamente é a melhor atriz do ano, sem sombra de dúvidas. Contudo, Bullock é querida por todos e isso conta muito na Academia. Não que a Meryl não o seja... E a Julia Child está nas cabeças dos americanos, maioria dos votantes. E agora? A maior parte das pessoas votou em Bullock. Eu vou arriscar na Meryl Streep. É o risco mais alto que corro nessas apostas, hehehehe.


Melhor Ator
Clooney certamente não merece o prêmio. Digo, ele está bem, mas... só. Freeman é o próprio Nelson Mandela e poderia se sagrar vencedor, mas isso não vai acontecer. Jeremy Renner está excelente e bem que poderia ganhar aqui. Mas é muito desconhecido. Colin Firth seria a minha escolha, assumidamente passional. É um ator carismático, e compõe de forma belíssima o personagem. Mas... Penn venceu ano passado interpretando um homossexual e a Academia não vai se repetir. Assim, o prêmio é, merecidamente, de Jeff Bridges, que está simplesmente perfeito na pele do esquecido cantor country Bad Blake.


Melhor Diretor
Lee Daniels e Jason Reitman seriam zebras. Tarantino tem alguma chance, mas a grande disputa é mesmo entre os ex-casados James Cameron e Kathryn Bigelow. Meu voto fica com ela. Cameron já teve seu momento com Titanic. Nunca uma mulher venceu esta categoria. A Academia gosta dessas coisas.


Melhor Filme
Ai, ai... 10 ótimos filmes. Contrariando o crítico Pablo Villaça, o que eu menos gostei foi Um Homem Sério e um dos melhores é Um Sonho Possível, hehehehe. O primeiro é muito... Irmãos Coen para mim. =P E o segundo, apesar de batido e frágil em algumas cenas (ok, falho na sua direção), tem uma história tão comovente que me fez acreditar no futuro da humanidade. Mas, o prêmio será para Avatar ou Guerra ao Terror. Muito difícil escolher um dos dois, mas arrisco que Guerra ao Terror será o grande vencedor da noite.



É isso, amigos leitores. Nos comentários deixarei minha impressão sobre a premiação depois. E acompanhem no meu twitter (@tocadolobo) meus comentários durante a festa.