segunda-feira, 13 de abril de 2009

Alan Moore: Watchmen

Não é novidade pra ninguém que Alan Moore é um dos meus maiores ídolos e, na minha opinião, o maior expoente mundial no ramo dos quadrinhos. Com o lançamento do filme baseado na sua história Watchmen, decidi aos poucos realizar uma análise da carreira do mago barbudo (vejam abaixo duas fotos dele, uma mais antiga e uma recente). Para começar, a história pela qual ele provavelmente ainda vá ser citado daqui a 50 anos.





Watchmen é uma obra em 12 edições lançadas entre setembro de 1986 e outubro de 1987 nos Estados Unidos, roteirizada por Moore, desenhada por Dave Gibbons e colorida por John Higgins, publicada pela segunda maior editora de quadrinhos do mundo, a DC Comics (a dona do Superman, do Batman e da Mulher Maravilha =P). Na época, Moore já era um roteirista conhecido e elogiado, embora ainda não reverenciado. Foi Watchmen que o alçou à condição de grande criador, assim como Cavaleiro das Trevas fez o mesmo por Frank Miller e Sandman (já citado no blog) por Neil Gaiman. Mas Alan Moore definitivamente não pode ser comparado com nenhum outro artista do ramo. Ele fez para os quadrinhos o que Shakespeare fez para a Literatura Inglesa e Orson Welles fez para o cinema. Sim, Watchmen é extremamente comparada a Cidadão Kane. Não pela genialidade de sua história (e, sim, ela é brilhante), mas por redefinir completamente o gênero. O cinema antes de Cidadão Kane era um, depois se tornou outro. Os quadrinhos nunca mais foram os mesmos depois de Watchmen.

Watchmen é um quadrinho de super-heróis. Pois é, essa grande obra-prima é sobre super-heróis. Mas Alan se questiona sobre o que aconteceria de verdade no nosso mundo se os heróis existissem. Que impacto isso teria num país como os Estados Unidos? Como a polícia reagiria diante de pessoas mascaradas fazendo o seu trabalho? Como o governo se posicionaria perante tais criaturas fantásticas. A maior parte dos heróis de Watchmen é composta por pessoas comuns que se dedicaram a aperfeiçoar seu físico e combater o crime por trás de uma máscara. São seres comuns, repletos de coragem, mas com todas as falhas dos seres humanos (algo que, na época, praticamente nenhum herói de quadrinhos demonstrava ter). O único ser com algum poder anormal é o Dr. Manhattan, um físico que sofre um acidente e passa a ter superpoderes. Apenas um personagem ser super-humano é mais uma crítica de Moore ao fato de que um acidente assim é tão improvável que dificilmente aconteceria com mais de uma pessoa, enquanto nos quadrinhos de heróis convencionais todos ganharam seus poderes em acidentes e outras convenções do gênero.

Sem querer desmerecer Gibbons ou Higgins, as obras de Moore usualmente parecem independer de artistas. Aliás, imagino que ele seja um pouco frustrado por não ser um grande desenhista e poder fazer seus trabalhos sozinho. Ver um script de uma edição de Watchmen é impressionante. Moore por vezes usa uma página inteira para descrever um único quadrinho. Contudo, o mestre geralmente consegue criar uma conexão com seus desenhistas, fazê-los pensar, se adaptar ao seu estilo de trabalho e, apesar de não parecer, os dá um pouco de liberdade. Gibbons foi fundamental no aspecto criativo do visual da série e no fato desta ter sido tão importante para a Nona Arte. Cada quadro foi pensado como parte de um conjunto. Moore acrescentou inúmeras referências, e Gibbons conseguiu pôr as suas na arte. É praticamente impossível conseguir desvendar cada detalhe desta obra tão impressionante. O site The Annotated Watchmen faz uma tentativa louvável. Um exemplo de cuidado meticuloso com a série é um personagem do qual descobrimos a identidade secreta apenas em certo ponto da série, mas sempre que o mesmo aparece sem estar mascarado, demonstra ser canhoto, um fato que sua identidade mascarada também demonstra ser. Poucas pessoas reparam nesses detalhes, mas Moore faz questão deles.

Bem, não seria um post sobre Watchmen se eu não fizesse uma sinopse da história e apresentasse os principais personagens, correto? Pois bem, Watchmen se ambienta em Nova York, 1985, mas em um mundo onde inúmeros acontecimentos decorrentes da existência de super-heróis mudaram fatos marcantes da humanidade. Claro, os heróis comuns não tiveram tanta influência, mas o Dr. Manhattan sim. Como exemplo disso, ele foi enviado ao Vietnã e ganhou a guerra para os Estados Unidos. Essa vitória deu a Nixon autonomia para permanecer no poder por muitos anos, estando em seu quinto mandato quando do início da narrativa. O Dr. Manhattan ainda possibilitou a existência de carros elétricos sem maiores custos (hoje eles existem, mas são ainda muito caros), e os hidrantes das ruas foram substituídos por conectores para reabastecer a eletricidade dos veículos. Muitas coisas são diferentes no mundo, como o uso de dirigíveis como meio de transporte. A história da série remonta aos anos 40, quando surgiram os primeiros heróis e estes resolveram se reunir, formando os Minutemen (ou Homens-Minuto), um nome que remonta às milícias americanas na Guerra da Independência, que ganharam esse nome devido à sua capacidade de rápida reação aos ataques dos colonizadores ingleses. Entre os Minutemen estavam Hollis Mason, o Coruja; Sally Júpiter, a Espectral; e Eddie Blake, o Comediante. O Comediante logo deixa a equipe e a Espectral se aposenta para casar-se com seu empresário. Eis que nos anos 60 novos heróis surgem para substituir os antigos, e uma nova equipe tem início, os Watchmen (ou algo como Vigilantes), com o segundo Coruja (Dan Dreiberg), a segunda Espectral (Laurie, filha de Sally), o Comediante novamente, Ozymandias (Adrian Veidt), Rorschach (identidade desconhecida) e o Dr. Manhattan (originalmente o dr. Jon Osterman). Novamente a iniciativa não dura muito e nos anos 70 uma lei é aprovada proibindo heróis mascarados. O Comediante trabalha para o governo e continua fazendo isso. O Dr. Manhattan permanece oferecendo seus serviços como cientista. Ozymandias revelou sua identidade ao público e se aposentou antes mesmo da lei, e se torna um executivo bem-sucedido. O Coruja se aposenta, assim como a Espectral. Mas Rorschach continua atuando como herói, mesmo sendo fugitivo da polícia por fazer isso.
A narrativa tem início quando o Comediante é assassinado e, investigando o crime, Rorschach desconfia se tratar de um plano contra os mascarados. Dan Dreiberg é um apaixonado por aves que decidiu investir sua gorda herança na tecnologia necessária para se tornar um herói, construindo sua própria nave e equipamentos que lembram os do Batman. Laurie começou nessa carreira aos 15 anos, empurrada por sua mãe. Mas logo se apaixonou pelo Dr. Manhattan e vive com ele até o início da história. Veidt é considerado o homem mais inteligente do planeta, e traçou seu caminho como o de Alexandre, o Grande, buscando ser um empresário justo e sábio. Rorschach é uma figura sombria, atormentada e extremamente violento para com os criminosos. Certamente o personagem mais complexo da revista, seu nome tem origem no dr. Hermann Rorschach, que descobriu as manchas de tinta da máscara do personagem que, aplicadas em papéis/placas, são submetidas a pessoas e as interpretações que estas fazem das manchas geram uma análise psicológica de seus perfis. As manchas da máscara de Rorschach (explicadas nos quadrinhos) mudam de acordo com seu humor.

Bom, deixo abaixo algumas imagens dos quadrinhos. Watchmen é certamente uma das melhores histórias já escritas, com inúmeros significados e sub-plots, e nuances que só podem ser captadas após cinco leituras. Recomendo a todos que apreciem uma história de investigação, com toques de heroísmo, drama, romance, terror e suspense.



(O bottom do Comediante, uma das grandes marcas da história, e a mancha de sangue que depois é comparada com um relógio amarelo com ponteiros vermelhos)


(Rorschach)


(Os Minutemen)


(Os Watchmen, da esquerda para a direita: em cima o Dr. Manhattan e o Comediante; logo abaixo, a Espectral e Ozymandias; em seguida, o Capitão Metrópole - um herói dos anos 40 que tentou prosseguir, mas logo se aposentou - e o Coruja; e na parte de baixo, Rorschach)


Para finalizar, uma apresentação bem antiga de Bob Dylan com The Times They Are A-Changing, trilha-sonora do filme de Watchmen e que se encaixa perfeitamente à história.

2 comentários:

alex marques disse...

Grande Elvis.. Paz e Bem!!

Alan Moore definitivamente é uma figura.. vendo o seu documentário/entrevista: "Paisagem mental de Alan Mooree" percebi que o cara entende de tudo um pouco. Gostei bastante da primeira meia hora, porém quando o cara começou a falar de cabala... bem esse assunto não me interessa muito!

Watchmen com certeza é uma obra prima, aliás, como o cara consegue fazer tanta coisa boa.. "V de vingança" seria uma outra obra prima, mas como não se podem coexistir duas obras primas, prefiro Watchmen, por retratar o mundo dos super heróis como nunca havia sido feito!

Ao ver o filme com o nosso amigo Gilvan, o mesmo criticou muito( caiu matando mesmo) a trilha sonora.. eu achei bastante agradável!


Fica com Deus meu amigo!

Elvis "Wolvie" disse...

Achei o documentário sobre o mestre Moore bem interessante, embora só o fato dele ser genial não tenha sido suficiente para segurar o ritmo. Acho que poderia ser bem melhor.

Eu concordo, não podemos eleger duas obras-primas. No caso de Alan Moore, são várias, bem mais do que duas. Sério mesmo, eu considero tanto Watchmen quanto V incomparáveis. Ainda acrescento aí Do Inferno e A Liga Extraordinária, pelo menos. Mas Promethea é outra forte candidata, pois o background da história é fabuloso. E eu não li Lost Girls para poder dizer algo. =)

Sobre a trilha sonora de Watchmen, eu discordei de várias músicas. Mas gostei especialmente da abertura com a música do Bob Dylan que eu postei! =D