quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ingmar Bergman: O Filósofo Cineasta


Entre junho e julho deste 2012 o Centro Cultural Banco do Brasil exibiu em Brasília uma mostra de cinema dedicada ao sueco Ingmar Bergman. Aproveitei o ensejo para assistir 27 de seus filmes, incluindo todos os recebedores de prêmios, os indicados pela crítica e os elogiados pelo público, além de alguns menos conhecidos.


Segue abaixo a filmografia de Bergman, listando apenas aqueles que estrearam nos cinemas (há mais uns poucos feitos direto para a TV e que nunca foram exibidos na telona), com a cotação dos que assisti e o link para meu comentário no Tumblr:

1946: Crise (Kris)
1946: Chove sobre nosso amor (Det regnar på vår kärlek)
1947: Um barco para a Índia (Skepp till Indialand)
1948: Música na noite (Musik i mörker)
1948: Porto (Hamnstad)
1949: Prisão (Fängelse)
1949: Sede de paixões (Törst)
1950: Rumo à felicidade (Till glädje)
1950: Isto não aconteceria aqui (Sånt händer inte här)

1952: Quando as mulheres esperam (Kvinnors väntan)

1964: Para não falar de todas essas mulheres (För att inte tala om alla dessa kvinnor)
1966: Persona (Persona) ****
1969: O rito (Riten)

1970: Faro 1969 (Fårö-dokument)
1971: A hora do amor (Beröringen)
1977: O ovo da serpente (Das Schlangenei)
1979: Faro 1979 (Fårö-dokument 1979)
1980: Da vida das marionetes (Aus dem Leben des Marionetten)
1997: Na presença de um palhaço (Larmar och gör sig till)

Eu dividiria a carreira de Bergman em quatro partes (destacadas na lista acima):
- Na primeira, encerrada em 1950, antes de Juventude, ele foi submisso aos produtores, não tinha muita liberdade, estava aprendendo seu ofício e não tinha ainda nenhum de seus famosos atores ao seu comando. Acabei não vendo nenhum dos 9 representantes desta fase;
- Na segunda, de Juventude a O Olho do Diabo, em 1960, Bergman alternou os projetos que satisfaziam os estúdios, como as comédias protagonizadas principalmente por Eva Dahlbeck e Gunnar Björnstrand, com seus projetos pessoais e as primeiras incursões nas reflexões que lhe tornariam famoso, presentes em O Sétimo Selo e Morangos Silvestres, dois de seus filmes mais reconhecidos. Nesta fase, começou a firmar parcerias com os atores de sua confiança, como os já citados Dahlbeck e Björnstrand, e Harriet Andersson, Ingrid Thulin, Max von Sydow e Bibi Andersson;
- Na terceira fase Bergman ganhou o mundo. O Oscar recebido por A Fonte da Donzela lhe projetou em definitivo para fora dos países nórdicos e finalmente lhe concedeu a liberdade de filmar o que bem desejasse. Assim, o diretor se aprofundou nos dramas e reflexões, abrindo a única exceção com o filme Para Não Falar de Todas Essas Mulheres, uma comédia, mas que dizem ser diferente das dos anos 50. A fase vai de Através de um Espelho a A Paixão de Anna e conta com a trilogia do Silêncio (Através de um Espelho, Luz de Inverno e Silêncio) e a sequência de filmes realizados na Ilha de Farö, onde passou a morar. Bergman encontrou aqui sua grande atriz, Liv Ullman, além de ter como presença constante o também excelente Erland Josephson;
- Por fim, a última e mais longa fase de sua carreira, de 1970 até seu falecimento, trouxe a maturidade final. Com tratados à sétima arte do porte de Gritos e Sussurros e Fanny e Alexander, performances desgastantes como as de Face a Face e Sonata de Outono, Bergman aqui não tinha mais o que aprender, apenas a ensinar. E ele dá aulas de cinema, espaçando cada vez mais seus filmes. O diretor casou pela última vez em 1971 e parece ter encontrado a felicidade conjugal, uma vez que não teve mais amantes. Isso talvez tenha tirado um pouco o peso de suas reflexões profundas, permitindo que o diretor se concentrasse cada vez mais nas técnicas cinematográficas.

Curiosidades sobre a filmografia de Bergman:
- Os longas Faro 1969 e Faro 1979 são documentários sobre a ilha onde o diretor residia;
- Os filmes Isto não Aconteceria aqui, de 1950, e A Hora do Amor, de 1971, eram abominados pelo diretor, de tal forma que se tornou até difícil encontrar cópias dos mesmos;
- Bergman trabalhou basicamente com dois diretores de fotografia, salvo algumas exceções: Gunnar Fischer e, principalmente, Sven Nykvist, que é até hoje considerado um dos principais expoentes que já existiram no ramo.


Após alguma reflexão, consegui montar um Top 5 Bergman:
1- Morangos Silvestres
2- Fanny e Alexander
3- Gritos e Sussurros
4- Persona
5- Juventude


Assim encerro, com a recomendação de que confiram obras deste grande filósofo, que extravasava suas reflexões através do cinema, e que criou obras que serão eternamente lembradas pelos amantes da sétima arte.

4 comentários:

Esmeralda disse...

Elvis, agradeço pelo compartilhar. Esta muito bom, parabéns!!
Deve ter sido uma experiência visceral ver esses filmes todos.
Na faculdade, tive que assistir alguns. Meu primeiro foi gritos e sussurros e foi..inesquecível!
Bjos

Elvis "Wolvie" disse...

Sim, foram cinco semanas bem intensas! =]

Ivanildo Pereira disse...

Ainda não vi tudo do Bergman, mas acho que já vi cerca de 80%. E concordo com você: a terceira e quarta fase que você assinalou representam o ápice dele como cineasta. Foi quando ele realizou alguns dos melhores filmes da história e até mesmo alguns trabalhos que não são originalmente cinema merecem ser relacionados como destaques em sua carreira, como a minissérie "Cenas de um Casamento".

Belo post, parabéns.

Elvis "Wolvie" disse...

Obrigado, Ivanildo. Realmente, alguns trabalhos feitos para a TV e posteriormente convertidos para a telona, como Cenas de um Casamento e Face a Face, são sensacionais!